A partir de meados dos anos setenta, já formado como violoncelista na Universidade Federal da Bahia e integrante do corpo da Fundação de Educação Artística, o compositor Marco Antônio Guimarães manteve grupos de pesquisa e desenvolveu estratégias para abrir novas possibilidades em várias frentes no campo musical, englobando composição, pedagogia, arranjo e timbres. Inventou modos de leitura musical envolvendo cartas de baralho e varetas de I-Ching, modos de escrita musical com figuras geométricas, pêndulos e cores. Suas táticas e técnicas foram aplicadas ao longo do tempo em várias instituições como a UFMG e a Fundação de Educação Artística. A parte de suas criações que mais possibilitou trocas e impulsionou outros desenvolvimentos foi, contudo, a pesquisa de meios para conseguir novos timbres e aplica-los no contexto musical: a construção de novos instrumentos musicais. Inspirado pelo trabalho de luteria experimental de Walter Smetak, cujo trabalho pôde observar na UFBA, Marco iniciou a construção por uma peça diretamente inspirada nas de Walter e utilizando materiais símiles: madeira, cabaça e cordas. Logo se interessou por outros materiais não orgânicos como o PVC e também por circuitos elétricos e materiais reaproveitados. Os timbres que conseguia eram instigantes e na fervilhante cena artística de Belo Horizonte foram desde o começo acompanhados de perto por vários músicos, atores e artistas plásticos que foram fundamentais em seu desenvolvimento. Os convites para participar de trilhas para cinema e teatro não tardaram a aparecer, e logo os primeiros discos, e assim foi-se consolidando um grupo de instrumentistas profundamente empenhados em desenvolver técnicas para tirar o melhor daqueles instrumentos: surgia assim o grupo UAKTI. Com o empenho do grupo o acervo de instrumentos e técnicas cresceu e ganhou outros horizontes, sendo reconhecidos nas décadas de atividade do grupo: Os timbres foram ouvidos ao lado de vozes como as de Milton Nascimento e Paul Simon, ecoaram uma composição de Philip Glass na abertura das olimpíadas culturais de Atenas e foram ouvidos em salas de concerto e de cinema em trilhas de dança feitas para o Grupo Corpo e bandas sonoras de diversos filmes. Após o fim do grupo, ocorrido em 2015, os instrumentos e a oficina completa de Marco, com bancada, ferramentas e material adicional, foram colocados à venda e passaram por um período de incertezas. A saída veio a partir de uma ponte feita pela multiartista pesquisadora Júlia Baumfeld e o também pesquisador Alê Fonseca. Júlia organizou nesse período oficinas de Marco na sede do grupo, nas quais foi possível ter contato com as técnicas de educação musical e composição de Marco, bem como com os instrumentos e com a situação do acervo. Temendo que os instrumentos fossem vendidos para fora do país ou não encontrassem destino seguro, Alê se propôs a comprar os instrumentos e incorporar a seu acervo, que já contava com instrumentos relevantes da história da música eletroacústica. A ideia era ter os instrumentos prontos para o acesso de pesquisadores e músicos, bem como para execução e gravação de seus timbres únicos. A iniciativa, porém, não tinha local definido e os instrumentos permaneceram em sua grande maioria mudos nas embalagens de transporte. Apenas em 2019, com o término da construção do estúdio New Doors Vintage Keys, espaço dedicado à pesquisa e gravação musical, o acervo de instrumentos, bem como a oficina, puderam ser transferidos para espaços dedicados, tirados de suas caixas e organizados de forma acessível para pesquisa e gravação, podendo ser novamente ouvido e compartilhado e, mais ainda, de uma forma que não havia sido possível até então. Enquanto eram utilizados pelo UAKTI os instrumentos estavam não raro em turnê, sendo levados para o estúdio apenas em ocasiões de gravação. Com as turnês o tempo para experimentações também não era o mesmo do início e com isso várias criações de Marco nunca chegaram a ser gravadas. O transporte dos instrumentos é agora um risco para sua integridade, mas pela primeira vez em sua história eles estão permanentemente em um espaço destinado a pesquisas musicais, projetado e capacitado para a gravação de música de câmara, e têm a chance de realizar suas funções: Ser tocados e gravados, propiciando novas qualidades sonoras e formas de fazer e fruir música.
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