O Estúdio

O New Doors Vintage Keys (NDVK) é um estúdio de música e espaço de criação sonora, localizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, que propõe abordagens mais singulares e imersivas para os processos de gravação, contando também com um acervo de equipamentos e instrumentos históricos dedicados à pesquisa em timbres e à ampliação das possibilidades sonoras nos campos do arranjo, da criação e da produção musical.

A infraestrutura de áudio combina algumas das mais proeminentes ferramentas utilizadas hoje em grandes estúdios com equipamentos raros, de sonoridade singular, que marcaram a história da música e dos processos de gravação no século  XX, bem como um extenso acervo de microfones e instrumentos musicais acústicos, elétricos e eletrônicos. Tudo isso interligado de maneira flexível, proporcionando formatos híbridos de criação e registro de som.

O espaço conta com ambientes projetados pelo engenheiro Renato Cipriano e pensados para possibilitar uma ampla gama de projetos. São seis salas de trabalho interconectadas por cabeamento de áudio, cada uma possuindo sua funcionalidade, tamanho e características acústicas próprias e sendo nomeada em homenagem às personalidades com afinidade com a história do estúdio e com as pesquisas ali desenvolvidas.


Sala Conny Plank (sala de controle)

Aqui estão concentrados os processos de gravação, edição, mixagem e masterização de áudio. Conectada a todos aos demais espaços do estúdio, a Sala Conny Plank é uma sala de controle com aproximadamente 47m2, e pode ser configurada para metodologias de trabalho puramente analógicas ou híbridas, sendo também possível o trabalho puramente digital. Aqui estão disponíveis equipamentos de áudio com características muito diversas, fabricados em diferentes períodos da história dos estúdios de gravação. Vale destacar a console de mixagem LC-72 da Undertone Audio (UTA), os gravadores de fita Studer A827 (24 canais), Studer A80 (2 canais), Nagra III (mono), e os conversores Antelope Audio Orion 32+ e Burl B2 ADC / DAC.

O espaço leva o nome do icônico produtor musical alemão Konrad “Conny” Plank, conhecido pela incorporação de técnicas pouco usuais e de sonoridades eletrônicas aos processos tradicionais de criação em estúdio. Plank fundiu processos da música eletroacústica e eletrônica, percebendo suas afinidades com tendências como o Dub Jamaicano, onde a mesa de som é tratada também como um instrumento. Seu estúdio serviu de atelier para a cena de música experimental e acabou colaborando de forma marcante com alguns dos mais inovadores artistas europeus do pós-guerra.

Conny Plank – Autor: Divulgação

Sala Carlos Alberto Pinto Fonseca (sala de gravação principal)

Adjacente à sala de controle, a sala Carlos Alberto Pinto Fonseca foi construída do zero para o estúdio e se caracteriza principalmente por comportar grandes grupos de músicos, devido a seu tamanho e sua acústica interna adaptável. A sala tem aproximadamente 95 m2 – 11 m x 9 m em seu recorte central, 5 m de pé direito – e conta com painéis acústicos reguláveis, cortinas acústicas sobre paredes de adobe artesanal e dois tipos de piso – uma área com tábuas corridas de Peroba Rosa, outra com piso em pedra Ouro Preto. Nesta sala estão distribuídos 5 tie lines, somando 64 vias analógicas de áudio (48 conectores fêmea; 16 conectores macho) e 10 conexões de rede. A sala abriga um piano Steinway modelo D de 1914 fielmente restaurado para o estúdio, um órgão Hammond modelo B3 com caixa Leslie 122, um piano elétrico Fender Rhodes Mark VII Suitcase e uma Espineta de modelo italiano de marca Sassmann.

Esta sala leva o nome do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, figura de grande importância na história da música sinfônica e coral Brasileira. Fonseca fundou e conduziu, por décadas, o coral Ars Nova, um dos grupos vocais mais reconhecidos do Brasil, e regeu também a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Suas peças são marcadas pelo sincretismo, trazendo influências africanas tanto na temática quanto na presença de forte caráter rítmico, e são referências internacionais da prática coral no século XX.

Carlos Alberto regendo – Foto: Divulgação

Sala Wendy Carlos (sala de sintetizadores)

Nesse espaço está concentrado o acervo de sintetizadores do estúdio, que contempla exemplares representativos de mais de cem anos da história da música eletrônica, bem como seus fluxos de produção. Desde instrumentos eletrônicos da primeira metade do século XX como o Theremin e o Hammond solovox até os instrumentos que possibilitam fluxos automatizados, como Controle de Voltagem e MIDI, incluindo a mais recente implementação MPE (MIDI Polyphonic Expression). Além de sintetizadores icônicos como Moog Minimoog, Arp 2600, Roland Jupiter 8 et cetera, estão também disponíveis sintetizadores modulares padrão MU (Moog Unit) construídos por Roger Arrick, Arthur Joly e Vinícius Brazil e uma variedade de instrumentos de síntese e processamento da empresa britânica Electronic Music Systems (EMS). Além dos sintetizadores analógicos de síntese subtrativa estão também presentes sintetizadores digitais e híbridos representantes de tecnologias como FM, Wavetable e chips digitais de oito bits. A sala conta também com baterias eletrônicas, samplers e processadores de efeitos icônicos. Com esse acervo é possível trabalhar com vários processos de produção de música eletrônica, contando com sequenciadores de Controle de Voltagem analógicos, digitais e híbridos, sequenciadores MIDI e interfaces que possibilitam a combinação desses fluxos, tudo isso integrado o máximo possível com a plataforma de áudio e controle Ableton Live 11.

A sala recebe este nome em homenagem à Wendy Carlos, física e musicista que se dedica ao áudio e à síntese desde os anos 50, tendo lançado em 1968 o álbum de música erudita mais vendido de todos os tempos, no qual Wendy mostrava várias possibilidades sonoras do sintetizador modular recentemente desenvolvido por Robert Arthur Moog aplicadas à execução de peças de Johann Sebastian Bach. Nas décadas seguintes suas pesquisas continuaram tanto na área de síntese, sendo uma das primeiras pesquisadoras de síntese digital e da tecnologia de síntese vocal por controle de voltagem (Vocoder), bem como na área do áudio e da composição musical, tendo trabalhado em conjunto com a Dolby e também explorado em seus álbuns posteriores sistemas de tonalidade expandida e de música ambiente.

Diva master do transistor, Wendy Carlos. Que Deus a abençoe hoje e sempre amém

Sala Marco Antônio Guimarães 

Esta sala abriga um acervo com todos os instrumentos musicais construídos, em um período de mais de 40 anos, pelo artista, compositor, arranjador, instrumentista e inventor Marco Antônio Guimarães. Nascido em Belo Horizonte, Marco Antônio foi fundador, diretor musical, arranjador e principal compositor do grupo de música instrumental UAKTI. Compôs peças para balés do Grupo Corpo e trilhas sonoras para filmes como, por exemplo, Lavoura Arcaica, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, e Ensaio sobre a Cegueira, dirigido por Fernando Meirelles. Seu trabalho composicional é marcado pelo diálogo de formas tradicionais da composição musical com elementos abstratos, numéricos, formais, espaciais, como formas geométricas, jogos, esquemas e padrões de desenho. Ao mesmo tempo, Marco desenvolveu uma lutheria própria que incorpora, combina e reutiliza objetos disponíveis no cotidiano, como canos de PVC, panelas, vidro, objetos de madeira e metal diversos, construindo instrumentos acústicos e eletroacústicos. Seu trabalho tem inspiração nas ideias de músicos como Walter Smetak e Ernst Widmer, com quem estudou na Universidade Federal da Bahia, na década de 1960. Atualmente, Marco Antônio vive em Belo Horizonte.

O New Doors mantém um grupo de instrumentistas e arranjadores em contato com os instrumentos, para estudar as técnicas envolvidas e todo o aspecto filosófico e composicional do trabalho de Marco Antônio Guimarães, no intuito de manter o acervo ativo para que ele possa ser utilizado nas produções que porventura dialoguem com essa proposta.

Marco Antônio Guimarães – Foto: Divulgação

Sala Skank

Esse local guarda um pouco da história do imóvel que hoje abriga o New Doors, originalmente moradia da família do músico Haroldo Ferreti, e local onde funcionou o Estúdio Ferretti, posteriormente Estúdio Máquina, que foi testemunha do nascimento de bandas como Pato Fu, Jota Quest e, mais notadamente, a banda Skank da qual Haroldo é fundador e junto da qual o estúdio se desenvolveu. Originalmente a sala de TV da casa, esse espaço foi reformulado em homenagem à banda mineira para servir como uma sala de gravação de guitarras, mantendo ainda a televisão e o ambiente descontraído, além de ser um espaço de grande versatilidade, permitindo a gravação em contato visual com a Sala Carlos Alberto Pinto Fonseca.

É na Sala Skank que ficam instalados nossos amplificadores de guitarra e de baixo elétrico, como os Fender Twin Reverb 70´s, Twin Amp, De Ville, Deluxe, o Matchless DC30, Orange Rockerverb 100, o Rivera Knuckle Head 100, o Silvertone 1482, o Lafayette 75, uma Caixa WEM dos anos setenta com falantes configurados como gostava David Gilmore, uma caixa Harry Joyce etc. Nela também estão alguns de nossos instrumentos de corda e pianos elétricos como o Fender Rhodes Mark I, o Yamaha CP-80b e o Clavinet Modelo C.

Samuel Rosa com o produtor Renato Cipriano e Chico Amaral no antigo Estúdio Ferretti – Autor: Divulgação

Sala Sylvia Klein

Localizada em espaço contíguo à Sala Conny Plank, se trata de um local dedicado à gravação de vozes e outros instrumentos que possam se beneficiar desse ambiente “iso”. Recebe seu nome em homenagem à soprano Sylvia Klein, que em sua carreira se dedica tanto à interpretação de óperas consagradas como de trabalhos mais experimentais e do repertório popular. A sala tem 10 m2.

A casa

De forma análoga à manutenção de acervos de equipamentos e de instrumentos, durante a reforma do imóvel houve a preocupação de honrar a história da casa, mantendo seu caráter acolhedor por meio dos elementos arquitetônicos originais, como vitrais, que foram mantidos, bem como os jardins da casa, que ainda foram acrescidos de uma nova área permeável.

O acesso a cinco das seis salas é possível por meio de rampas, facilitando o transporte de equipamentos e o acesso a cadeirantes, sendo um dos três banheiros da casa também acessível.